O “espírito que se torna livre” para atingir os “altos fins da existência”: os vitalismos de Nietzsche e Hahnemann.

Denise Scofano

Resumo


Esta pesquisa tematiza o conceito saúde na perspectiva dos modelos médicos vitalistas, situando-se no eixo da dimensão doutrina médica das Racionalidades Médicas e tem como objeto de estudo os vitalismos de Hahnemann e Nietzsche. A partir do levantamento e análise bibliográfica de textos e da abordagem disciplinar histórica e filosófica, teve como objetivos analisar os conceitos de vida, saúde, doença e cura presentes nos pensamentos destes autores, traçar correspondências e explicitar as diferenças dos pensamentos envolvidos. Como apoios teóricos os trabalhos de Canguilhem, Luz e Foucault. Partindo da ênfase na atitude vital do sujeito em seu processo de saúde-doença-convalescença-cura que ambos pensadores destacam buscou-se avaliar as hipóteses de o vitalismo hahnemanniano se assemelhar ao nietzscheano e se seria possível afirmar que a busca da “grande saúde” equivaleria à meta do tratamento homeopático ao contemplar a “liberdade do espírito” na conquista da ampliação da normatividade vital. Concluiu-se que os vitalismos de Hahnemann e Nietzsche são semelhantes na medida em que as bases de seus pensamentos ressaltam a vida enquanto um jogo de forças e luta, onde enfatizam a irredutibilidade dos fenômenos dos vivos às propriedades físico-químicas; a concepção dos seres humanos como totalidades únicas e singulares nas quais há um jogo de forças atuantes, promovendo diferentes saúdes no mesmo indivíduo, de acordo com as variadas fases da vida; e as hierarquias existentes entre as forças, resultando em análises diagnósticas, possibilidades de intervenção terapêutica e acompanhamento do processo saúde-doença. Correspondem a formas de olhar a vida humana de modo dinâmico, valorizando todos os aspectos físicos, mentais, emocionais e as interações/relações com o meio em que vive. A “grande saúde” para “um espírito que se torna o que é” amplia o “ideal de cura homeopático” ao contribuir para a ressignificação do conceito de saúde como expansão da normatividade vital e da vida como criação de valor, promovendo deslocamentos de perspectivas individual e coletiva, a fim da conquista de uma “saúde mais alegre e vital” e afirmadora do “espírito livre”. Ambos pensamentos podem promover importantes reavaliações do conceito de vida e saúde na sociedade e na medicina contemporâneas, centradas nos fenômenos quantitativos e mecanicistas, que geram conquistas relativas à longevidade, mas ao mesmo tempo aprofundam a normalização dos indivíduos com base em valores estatisticamente determinados e generalizantes.

Palavras-chave


Hahnemann; Nietzsche; homeopatia; vitalismo; vida; processo saúde-doença-cura; normatividade vital

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ISSN: 2175-3105